2.4. Fichamento do texto: MONTANER, Josep - Abstração. In As Formas do Século XX. Fichamento do texto: MONTANER JOSEP M. – As Formas do século XX
Sob o signo dos avanços da ciência e da técnica, a abstração é o impulso intelectual e formal mais característico, sintético e renovador de todas as artes no século XX. Suas raízes são constituídas pelas teorias psicológicas sobre a percepção elaborada na segunda metade do século XIX e a teoria da visualidade para formuladas na mudança do século XIX ao XX pelos teóricos da arte na Europa Central. Wilhelm Worringer definiu em um de seus livros que os dois pólos básicos da evolução da arte são a abstração e o expressionismo, e diz que as formas abstratas, sujeitas a lei são conseqüentemente as únicas e as supremas formas onde o homem pode descansar frente ao imenso caos do panorama universal.
Se a pintura tradicional era algo simbólico e figurativo que representava a realidade, o artista moderno destruiu tal ilusão e tal propósito de representação. Segundo Vitrúvio, a base da arte e da arquitetura também radicava na mimese. Tanto para Platão quanto para Aristóteles, a mimese constituía um processo imprescindível, porém a Platão representava somente um reflexo das idéias e a Aristóteles, ao contrário, a mimese era o procedimento humano essencial de aprendizagem.
A visão tradicional da obra de arte havia entrado em crise. A visão clássica de arte considerava-se superada. O pensamento romântico e as teorias psicológicas da segunda metade do século XIX haviam fundado as bases de uma percepção dinâmica da obra de arte. A essência da obra não estaria nela mesma, mas na relação entre ela e o observador.
A íntima relação entre os procedimentos da abstração e o surgimento do espaço moderno, o espaço-tempo, que foi se liberando do espaço tradicional ou clássico em conseqüência da sua fluidez, expansão e relação entre o interior e exterior, se tornou o conceito chave da arquitetura.
Dentro dessa busca de um novo universo abstrato, László Moholy-Nagy(1895-1946), escreveu um texto que sintetizou diversas correntes e experimentos que haviam confluído à Escola de Bauhaus. O texto definiu como sendo os três estados básicos da nova arte abstrata, a superfície, o volume e o espaço.
Os próprios experimentos artísticos de Moholy-Nagy foram um exemplo das influências da teoria da relatividade. A arte contemporânea, ao não seguir uma linguagem e algumas regras estabelecidas, permitiu que a essência de cada grande artista consistisse, precisamente, na capacidade criativa e inventora para abrir novos caminhos, um novo universo de forma e uma nova maneira de ver a realidade.
Quando a arte abstrata se consolidou, gerou suas próprias leis compositivas e suas diversas corrente, como o cubismo, neoplasticismo, construtivismo, suprematismo. E buscando uma corrente abstrata com uma capacidade de síntese, Theo van Doesburg definiu em 1930 a nova arte abstrata como ‘arte concreta’.
O trabalho artístico e teórico de Wassily Kandinsky é singular. Os recursos à improvisação, à inconsciência, aos delírios ou aos movimentos incontrolados aproximaram Kandinsky aos mecanismos do surrealismo, e demonstraram que não é possível entender o elementarismo neoplasticista e construtivista sem suas referencias à liberação expressionista que estava presente nas primeiras propostas da Bauhaus.
No manisfesto A uma arquitetura neoplástica,Theo van Doesburg em 1924, delimitou e sintetizou a maioria dos princípios formais básicos de uma forma de arquitetura. Segundo ele, na nova arquitetura os diferentes espaços não estão comprimidos em um cubo fechado, e conclui que somente com a colaboração de todas as artes plásticas é possível completar a arquitetura.
As obras do neoplasticismo mais puro e errepetível foram duas: a Casa Schroder em Utrecht(1924) de Gerrit Rietveld e o pavilhão em Barcelona(1929) de Mies van der Rohe.
Séries de quadros de Kasimir Malevitch(1878-1935), constituem o limite da abstração e da redução máxima, definindo também um dos antecedentes do minimalismo. O processo de abstração de Malevitch é mais violento e destrutivo que o de Kandinsky e Mondrian. Malevitch detestava tudo o que era orgânico e vivo.
As propostas construtivista de Vladimir Tatlin(1885-1953) constituíram a culminação da passagem da abstração e da colagem no plano à intervenção no espaço da realidade, elaborando construções não utilitárias, concebidas como formas escultóricas situadas nas esquinas. A arquitetura construtivista evidencia a riqueza de uma arquitetura composta por formas dinâmicas e matemáticas, que parte das metáforas maquinistas, e busca criar uma forma de arte que possa ser produzida em série. Suas formas buscavam ser aplicadas não só à arquitetura e à cidade, mas também à diferentes áreas da vida coletiva e doméstica.
Uma parte da herança da abstração se manifestou a partir dos anos 60 nos mecanismos processuais e repetitivos desenvolvidos pela arte conceitual. Nesta concepção de forma, a obra já não é um produto final esteticamente atraente, ao contrário, seu objetivo é refletir essencialmente o processo formativo e conceitual da obra. Esta se converte em um processo intelectual, onde a idéia prevalece sobre o objeto físico final.
A arte conceitual e o minimalismo já estavam anunciados no próprio processo e dinamismo da arte da abstração, por exemplo, nos esquemas de Theo van Doesburg interpretando a geometrização da realidade elaborada por Mondrian. No entanto, ao contrario da ênfase no autor característica da arte conceitual, a arte da abstração, tal como era entendida por Malevitch, se baseava precisamente na dissolução da figura do artista, personagem anônimo em uma sociedade abstrata e coletivizada.
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